Site de crítica teatral editado pelo jornalista Valmir Santos, criado em 20 de março de 2010 e realizador de ações como Crítica Militante (2016), 72 textos inéditos de autores de diversos estados; Encontro com Espectadores (2016-2019), série de 36 conversas mensais entre artistas, críticos e espectadores em torno de um espetáculo; e Biocrítica (2021), 11 relatos autobiográficos de sites, blogs ou revistas eletrônicas de recepção às artes da cena e do corpo no Brasil.

A condição da margem

Valmir Santos

Em Órfãs de dinheiro, o teatro está para o conto assim como este, para a literatura. O enxugamento intrínseco da narrativa breve, em que menos é mais, corresponde à tática de linguagem na concepção, texto e atuação de Inês Peixoto. Três histórias compõem o monólogo sobre mulheres subjugadas por estruturas patriarcais na família ou na sociedade sob condicionantes como honra, sexo, pobreza e xenofobia.

No trabalho paralelo ao grupo em que milita, o Galpão (MG), a atriz parece escutar João Guimarães Rosa (1908-1967). Quando indagado sobre a preferência pelo conto, em rara entrevista a Ascendino Leite, publicada em 1946, em O Jornal (RJ), sob o sugestivo título “Arte e céu, países de primeira necessidade”, o escritor declarou:

(…) o que me interessa, na ficção, primeiro que tudo, é o problema do destino, sorte e azar, vida e morte. O homem a ‘N’ dimensões ou, então, representado a uma só dimensão: uma linha, evoluindo num gráfico. Para o primeiro caso, nem o romance ainda não chega; para o segundo, o conto basta. Questão de economia.

A despeito das histórias curtas emergirem de injustiças perpetradas em razões de gênero, classe social e circunstâncias de uma refugiada, a artista imprime fluxo à condição da margem. Proporciona sentidos e reflexibilidades por trás de cada personagem que, por sua vez, imbricam tempos e vozes outras.

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