Valmir Santos
Em Órfãs de dinheiro, o teatro está para o conto assim como este, para a literatura. O enxugamento intrínseco da narrativa breve, em que menos é mais, corresponde à tática de linguagem na concepção, texto e atuação de Inês Peixoto. Três histórias compõem o monólogo sobre mulheres subjugadas por estruturas patriarcais na família ou na sociedade sob condicionantes como honra, sexo, pobreza e xenofobia.
No trabalho paralelo ao grupo em que milita, o Galpão (MG), a atriz parece escutar João Guimarães Rosa (1908-1967). Quando indagado sobre a preferência pelo conto, em rara entrevista a Ascendino Leite, publicada em 1946, em O Jornal (RJ), sob o sugestivo título “Arte e céu, países de primeira necessidade”, o escritor declarou:
(…) o que me interessa, na ficção, primeiro que tudo, é o problema do destino, sorte e azar, vida e morte. O homem a ‘N’ dimensões ou, então, representado a uma só dimensão: uma linha, evoluindo num gráfico. Para o primeiro caso, nem o romance ainda não chega; para o segundo, o conto basta. Questão de economia.
A despeito das histórias curtas emergirem de injustiças perpetradas em razões de gênero, classe social e circunstâncias de uma refugiada, a artista imprime fluxo à condição da margem. Proporciona sentidos e reflexibilidades por trás de cada personagem que, por sua vez, imbricam tempos e vozes outras.