No seu solo “A Doença do Outro”, Ronaldo Serruya faz um relato sincero e desarmado sobre sua sua convivência, há quase uma década, com o vírus HIV. Essa circunstância, que de certo modo o distingue de outras pessoas, é, como ele mesmo diz, frágil e temporária como toda circunstância.
Ao longo da narrativa, feita num formato de palestra-performance, o autor-intérprete transcorre de modo fluido por textos de Susan Sontag (“A Doença e Suas Metáforas”) e pelas ideias da socióloga Patricia Hill Collins. Discute como os padrões sociais sempre nos induziram a olhar com rechaço e pena para os corpos positivos, como a mídia se apossou dessa narrativa – criando cenas para se fazer chorar.
Ronaldo não busca, nesse expurgo, algum conforto, pelo contrário. Pede ao público que desconfie do conforto, pois ele é traiçoeiro. Assim, nesse jogo de deslocamento, o público mergulha na sua história e adentra seu corpo político, que performa, que fala, que celebra, que dança. Que quebra a barreira frágil da sua circunstância.