Um inventivo cenário abriga um homem cuja solidão e isolamento é interrompido com a chegada de uma mulher vestida de noiva e sapatos de cetim, em estado de hipotermia. Delirante, ela adentra o espaço cênico espalhando bolinhas de isopor que remetem à neve. Há desespero em seus olhos, seus cabelos estão desgrenhados e não conseguimos encontrar coerência no que ela diz.
Alaska, escrita pela dramaturga estadunidense Cindy Lou Johnson, é um drama contemporâneo, cheio de vazios a serem preenchidos pelo espectador, o que torna o espetáculo fascinante em diferentes níveis. São duas pessoas isoladas pela neve, em ambas paira algo de trágico, como se o mundo apresentasse obstáculos intransponíveis.
Eles tentam se entender, mas como confiar em qualquer pessoa enquanto tudo se desmorona? É ainda possível acreditar em alguém? Nossas decisões não seguem uma lógica certa e todos podemos agir de forma imprevisível. Seria possível algum laço com qualquer pessoa que, aparentemente do nada, decide partir? Alaska abala nossas certezas e nos remete à solidão intrínseca à existência.
Chama atenção o uso criativo da contrarregragem, que em alguns momentos torna-se coadjuvante. No porão onde é encenada, Alaska encontrou o espaço adequado para potencializar o texto e a atuação vigorosa de Rodrigo Pandolfo, que assina a direção, e Louise D’Tuane, idealizadora do projeto. Incompreensível, porém, essa nova política do Centro Cultural São Paulo de oferecer temporadas absurdamente curtas para espetáculos tão elaborados como esse.