A Cia. Luna Lunera dispensa reticências no título da peça E ainda assim se levantar. No entanto, sua base textual, e mesmo a sintaxe do espetáculo, é permeada de três pontos. As pausas surgidas entre falas, pensamentos ou gestos não representam necessariamente silêncios, omissões, titubeios. Antes, são rumores gerados por exaustão existencial.
Também são três atuantes a emendar experiências pessoais às respectivas personagens que tratam de angústias de um presente rasurado, ávido por dias melhores. Nesse universo fragmentado, a rotação dramatúrgica de tentativas calha como um alento no panorama de desencantos em que o país e o mundo andam metidos – e a rigor não de agora.
Expressões como “A gente está tentando” e “Vamos começar de novo” indicam vestígios beckettiano na dramaturgia de Marcos Coletta concebida em parceria com a companhia. Falhas e desvios são reconhecidos mutuamente pelo trio, numa dinâmica de dentro e fora, de crítica e autocrítica, movimento que a direção de Isabela Paes delineia como efeito de circularidade refletido na própria ocupação espacial conformada em arena. Afinal, “Este espetáculo não começou agora”, mais uma frase lançada ao público na busca artística por estabelecer uma relação de jogo difícil de ser concretizada, em boa parte, devido ao vão que distancia o palco frontal do teatro no Sesc Santo Amaro.
No entanto, essa dificuldade é atenuada por meio de um recurso elementar e assertivo, quando bem aplicado, como no caso. O público descobrirá como o ato de fechar ou abrir os olhos em sintonia com determinadas passagens pode interferir sensível e decisivamente no modo de fruir a obra. Há um tensionamento propositivo diante das modulações de afetos ao longo da narrativa.