Kyra Piscitelli é jornalista e crítica de teatro. Atualmente é vice-presidenta da APCA, apoia o desenvolvimento de projetos culturais por meio das redes sociais e colabora com veículos e guias.

Foxfinder – A Caça

Texto inédito no Brasil, Foxfinder – A Caça, não à toa, nasceu premiado na Inglaterra e projetou a jovem dramaturga Dawn King, de 44 anos, para o mundo. A peça que já ganhou montagens também na Suécia, Estados Unidos e Austrália tem um texto pungente, dinâmico e que fala ao nosso tempo: a sociedade que cultua o medo para buscar a ordem, em que as Fake news se misturam a verdades e que as verdades são vendidas como absolutas. Na forma uma parábola distópica, o espetáculo prende a plateia e trabalha relações simples, sem nos dar conclusões simples.

William Bloor (Eduardo Mossri), um Agente Oficial do Estado da Inglaterra, chega à fazenda de Samuel (Ernani Sanchez) e Jude Covey (Carolina Fabri) para investigar uma suspeita de contaminação ali. Ele é orientado a destruir raposas, animais que, segundo a propaganda estadista, ameaçam as produções e colheitas agrícolas do país. Entretanto, apesar da escassez de alimentos, nenhuma raposa tem sido vista pelos campos. O casal vive, além de tudo, o drama pessoal de ter perdido seu único filho. Em cena, a amiga e vizinha Sara Box (Carol Vidotti) acredita que as raposas estão extintas, mas diante da dúvida também é impactada pela vinda do agente e teme que sua família e fazenda também sejam afetadas e que percam as terras.

Será que podemos confiar em pessoas acuadas? Que narrativa um pai que perdeu seu filho e tenta se livrar da culpa é capaz de comprar? Como é possível se criar defensores e proclamadores do fascismo em meio a tanta informação? Essas são algumas perguntas que Foxfinder – A Caça responde a plateia usando o simples artificio de raposas versus coelhos. Quase como uma fábula com mais de uma moral e excelentes interpretações, o espetáculo tem a sensível direção de Wallyson Motta e arrebata a plateia.

O texto está na reta final da sua temporada no Teatro Sérgio Cardoso (até 14 de junho) mas irá emendar uma leva de três semanas de apresentação na Oficina Cultural Oswald de Andrade até 6 de julho. A melhor notícia é que as duas temporadas são gratuitas.